Especialistas detectam problema no plano de reserva de Bitcoin do senador Lummis
A legisladora dos EUA, Cynthia Lummis (R-WY), revelou no sábado uma proposta que visa estabelecer uma reserva de Bitcoin para o governo, com o objetivo de acumular 1 milhão de BTC nos próximos cinco anos. No entanto, será que esse objetivo pode ser alcançado de forma realista?
Uma autoridade no assunto observou que a estratégia de implementação se desvia significativamente do que Lummis revelou na conferência Bitcoin 2024. Lá, ela mencionou que a aquisição dessas moedas seria financiada por meio de “reservas em excesso” dos doze bancos do Federal Reserve do país.
George Selgin, ex-diretor do Center for Monetary & Financial Alternatives do Cato Institute, disse que a iniciativa não é tão grandiosa quanto apresentada inicialmente.
Embora os detalhes específicos da estratégia de Lummis permaneçam em segredo, Selgin, após discussões com a equipe de Lummis, indicou que o plano envolve “indiretamente” o Federal Reserve e não tem nenhuma relação com as “reservas bancárias”.
Ele elucidou que, na realidade, a estratégia envolve a aquisição de 1 milhão de Bitcoins pelo Tesouro dos EUA, o que equivale a aproximadamente US$ 64 bilhões, de acordo com as avaliações atuais.
De acordo com Selgin, uma parte do financiamento para essa compra viria da reavaliação do valor do ouro do Tesouro armazenado em Fort Knox, que, com base nas taxas de mercado atuais, está avaliado em US$ 353 bilhões. Esse número é muito maior do que o valor contábil atual do ouro, uma discrepância que ele atribuiu a uma “ilusão de contabilidade” decorrente do sistema ultrapassado de Bretton Woods, uma época em que o dólar tinha maior valor.
Selgin descreveu que essa reavaliação implicaria que o Tesouro emitisse novos certificados de ouro para o Federal Reserve que refletissem o valor real de sua reserva de ouro. Posteriormente, o Fed aumentaria a Treasury General Account (TGA) em mais US$ 347 bilhões, alinhando-se com o aumento das obrigações dos certificados de ouro.
Com esse aumento de financiamento, o Tesouro teria recursos adequados para garantir 1 milhão de BTC - pelo menos nas taxas de mercado atuais.
Selgin observou que essa abordagem revisada é de fato viável. Entretanto, Selgin ainda tem reservas com relação ao esquema.
Ele expressou preocupação com o fato de que o estabelecimento dessa reserva poderia comprometer a estabilidade dos bancos comerciais em todo o país. Ele explicou que cada dólar retirado da TGA acaba nas reservas dos bancos comerciais, que têm a garantia de acumular juros do Federal Reserve.
Em períodos de taxas de juros altas, os bancos são incentivados a manter seus fundos nessas contas de reserva devido ao atraente rendimento de 5,4% oferecido atualmente. Para apoiar esse rendimento para seus bancos, o Fed normalmente depende de ativos remunerados denominados em dólares, como títulos do Tesouro dos EUA, que oferecem um retorno anual semelhante.
Entretanto, de acordo com a proposta de Lummis, o Federal Reserve não teria títulos do Tesouro para apoiar o crescimento das reservas dos bancos comerciais. Em vez disso, ele possuiria apenas certificados de ouro emitidos pelo Tesouro dos EUA, que não acumulam juros.
Acima de tudo, a principal dúvida de Selgin diz respeito à necessidade de o Tesouro manter qualquer ouro ou BTC em primeiro lugar. Em vez de manter um estoque, ele propôs que o Tesouro vendesse suas reservas de ouro existentes para reduzir diretamente sua dívida ou financiar projetos alternativos.